terça-feira, 9 de julho de 2013

Capítulo 3 - A distância aumenta, a distância diminui

Continuando a história do apartamento, estávamos bem e felizes e muito endividados. Porque, além do financiamento, devíamos toda a minha família: tio, tia, avó, mãe, irmão... Todos que puderam ajudar o fizeram e eu sentia-me com uma dívida de sangue. Fora isso tinha o financiamento, as prestações feitas com piso, armários da cozinha, aquecedor a gás, duchas e lâmpadas (o mínimo que achávamos necessário na época para poder mudar).
Por conta disso, precisei aceitar um trabalho de meio período numa editora. Deixava os meninos na escola e, ao meio-dia, minha funcionária (contratada para auxiliar nessa nova demanda de trabalhar com um bebê pequeno) os recebia e ficava com eles até eu chegar.
O trabalho aumentou e me fizeram a proposta de contratação. As dívidas não me deixaram à vontade para dizer "não". Aceitei. Passei a chegar em casa 18h30, 19h.
Depois de um ano assim, percebi que estava triste. Não sabia nomear. Talvez fosse por causa da distância das crianças, talvez porque eu ainda devia tanta gente e meu salário mais o do meu marido eram suficientes apenas para pagar as contas do dia a dia. Conversei com o marido. Talvez ter comprado o apartamento tivesse sido um grande erro. Sim, era isso. As dívidas me deixavam triste. Podíamos vender, pagar todo mundo e viver leve.
Imagina, meu marido disse-me, tanta gente sonha com a casa própria e agora que a gente conseguiu, a duras penas, vamos abrir mão?
Abrir mão de... ter dívidas? ... ficar longe dos pequenos? ... trabalhar tanto?
Só conseguia ver que o apartamento, no fim, trazia-nos amarras difíceis de aceitar, mas as conversas com meu marido não desenvolviam. Não sabia dizer o que sentia. Mas sentia-me distante da minha vida. A minha vida não era aquela, definitivamente.
Um dia, a minha funcionária pediu as contas. Assim, sem mais nem menos disse que os meninos davam muito trabalho. Compreendi, claro. Eu adorava o trabalho que eles davam, mas quem era eu para dizer algo a favor deles? Eu mal os via!
Ela saiu e eu também pedi as contas. Dois dias depois recebi uma proposta irrecusável: trabalharia a 15 minutos a pé de casa e ganharia o dobro. O fato de ver um horizonte para a quitação das dívidas só ecoou "sim, sim, sim" na minha mente. Então aceitei.

4 comentários:

  1. Este relato me faz repensar tantas coisas em meus projetos de vida. Obrigada por dividir conosco ;)

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  2. Ai, Penélope, eu tinha mesmo de ler seus textos. Estou exatamente no mesmo ponto. Obrigada! =)

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  3. Penelope, queridíssima!!! Lendo seu blog eu me identifico tanto que dói. Tô nessa situação. Compramos o apartamento há quase 3 anos e.... só dívidas. Pagamos mais do que o dobro do que pagaríamos com aluguel pra um financiamento que só vai terminar qdo eu tiver 60 anos. Oi?? Isso lá é sonho de casa própria?
    Tbm estou tomando coragem pro salto e me desprender de tudo.
    Quanta inspiração nesses seus relatos. :)
    Vc mudaram de vez pra NZ ou táem teste?
    Beijos!!!

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    1. Pois é, não são questões fáceis, mas acho que vale a pena nos perguntarmos "por quê". :) Ainda não estamos em definitivo aqui na NZ, até porque espero que minha vida tenha poucos definitivos daqui por diante, mas vamos ficar aqui até fevereiro, pelo menos. Beijo!

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